HPV Anal

Sintomas, riscos e quando procurar o proctologista

HPV Anal

O que todo paciente precisa saber

O HPV (papilomavírus humano) é uma infecção sexualmente transmissível muito comum e, quando atinge a região anal, pode trazer consequências importantes para a saúde. Além de causar verrugas (condilomas), alguns tipos de HPV estão diretamente ligados ao desenvolvimento do câncer de ânus.

O papilomavírus humano (HPV) anal é uma infecção sexualmente transmissível que vem ganhando relevância clínica significativa nos últimos anos. Nos Estados Unidos, estima-se que 25% da população seja portadora do vírus, e no Brasil, a incidência vem aumentando progressivamente, especialmente associada a casos de infecção pelo HIV.

O dado mais preocupante é que cerca de 90% dos cânceres anais estão relacionados ao HPV, principalmente aos tipos 16 e 18, considerados de alto risco.

Como proctologista, é cada vez mais comum eu atender pacientes com dúvidas e medos sobre HPV anal, sobretudo aqueles em grupos de maior risco. Por isso, meu objetivo aqui é explicar, de forma clara, quem está em risco, quais são os sintomas, como é feito o diagnóstico, o tratamento e, principalmente, como se prevenir.

Quem tem maior risco de desenvolver HPV anal?

Homens que fazem sexo com homens (HSH)

  •  ⁠Incidência de 45,9 por 100.000 homens em pacientes HIV-positivos;

  • ⁠ ⁠Incidência de 5,1 por 100.000 em homens HIV-negativos.

  • ⁠Fator de risco: prática de relações sexuais anais

Pessoas com HIV-positivos

  • Risco aumenta com contagens de CD4 < 200 células/μL.

  • ⁠Melhoria na sobrevida com terapia antirretroviral (HAART) paradoxalmente aumentou a incidência de câncer anal nesta população.

Mulheres com histórico de neoplasia genital

  • Mulheres com lesões intraepiteliais escamosas de alto grau (HSIL) em colo de útero ou câncer de colo de útero têm risco significativamente elevado

Pacientes imunossuprimidos

  • Transplantados renais: risco 10 vezes maior que população não imunossuprimida.

  • Pacientes com doença de Crohn: apresentação mais precoce e prognóstico mais desfavorável.

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Fumantes ativos

  • O tabagismo é um fator que aumenta o risco de progressão das lesões causadas pelo HPV para formas pré-cancerosas e câncer.

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Tudo o que você precisa saber sobre o HP anal

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Tipos de HPV

Nem todos têm o mesmo risco

Existem mais de 200 tipos de HPV, mas eles são divididos em grupos conforme o risco de causar câncer:

Categoria Tipos Características
Baixo Risco 6, 11, 40, 42, 43, 44 Associados a condilomas benignos
Risco Intermediário 31, 33, 35, 51, 52 Potencial transformação moderado
Alto Risco 16, 18, 45, 56 Forte associação com carcinoma espinocelular

Saber o tipo de HPV pode ser importante em alguns contextos, mas, na prática clínica, o mais relevante é identificar e tratar as lesões e manter um seguimento regular em grupos de risco.

Como o HPV anal é transmitido?

  • A principal forma de transmissão é pelo contato sexual, especialmente através de sexo anal (receptivo ou ativo).

  • O uso de preservativo reduz o risco, mas não elimina totalmente, pois o vírus pode ser transmitido por contato com áreas de pele que não são cobertas pelo preservativo.

  • Também pode haver autoinoculação (quando a pessoa leva o vírus de uma região para outra do próprio corpo).

O período médio de incubação é de cerca de 3 meses.

Sintomas de HPV Anal

Sempre dá para perceber?

Nem sempre.

Uma parte importante dos pacientes com HPV anal é assintomática, ou seja, não sente nada. Por isso, em grupos de maior risco, o rastreamento e o exame proctológico têm papel fundamental.

Quando há sintomas, eles podem incluir:

Verrugas anais

(condilomas acuminados)

Pequenas “verruguinhas” na região anal, únicas ou em “cachos”, às vezes com aspecto de “couve-flor”.

Cor da pele, cinza ou rosada.

Podem causar:

  • coceira (prurido)
  • sensação de “caroço”
  • dor
  • sangramento
  • dificuldade na higiene

Lesões intraepiteliais

(pré-cancerosas)
  • Muitas vezes não causam sintomas.

  • Só são detectadas com exame proctológico, citologia anal ou anuscopia (às vezes de alta resolução).

  • Podem ser de baixo grau (LSIL) ou alto grau (HSIL). As de alto grau são as que merecem mais atenção no acompanhamento, pois têm maior risco de evolução para câncer.

Câncer anal

Alguns sinais de alerta incluem:

  • sangramento anal persistente

  • dor anal

  • sensação de “massa” ou “caroço” no ânus

  • alterações do hábito intestinal (como dor para evacuar)

Nem todo sintoma significa câncer, mas qualquer alteração anal persistente deve ser avaliada por um proctologista.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é construído em etapas, de forma escalonada:

  • 1. Consulta e exame clínico

    Na consulta, o proctologista:

    • Conversa sobre sintomas, histórico sexual, doenças prévias e fatores de risco;
    • Examina a região perianal (parte externa);
    • Realiza o toque retal, que ajuda a avaliar tônus, massas e alterações internas;
    • Pode palpar linfonodos na virilha em casos suspeitos.
  • 2. Anuscopia

    • Exame simples, feito no consultório, em que um pequeno aparelho permite visualizar o canal anal por dentro;

    • Ajuda a enxergar melhor verrugas internas e outras lesões.

  • Citologia anal (exame de “papanicolau anal”)

    Coleta de células da região anal com uma escovinha, semelhante ao exame ginecológico;

    É especialmente útil em grupos de risco, mesmo sem sintomas;

    Os resultados podem mostrar:

    • normal;
    • células atípicas (ASCUS);
    • lesão de baixo grau (LSIL);
    • lesão de alto grau (HSIL);
    • suspeita de câncer.
  • 4. Anuscopia de alta resolução (AAR)

      • Exame mais detalhado, parecido com a colposcopia do colo do útero;

      • Utiliza aumento (lente) e substâncias específicas para identificar áreas alteradas;

      • Permite biópsia de pontos suspeitos.

  • 5. Biópsia

    • Retirada de um pequeno fragmento de tecido para análise no laboratório;
    • É o exame que confirma se uma lesão é de baixo grau, alto grau ou câncer;

HPV anal sempre vira câncer?

Não.

A maioria das infecções por HPV não evolui para câncer.

O que determina o risco é uma combinação de fatores:

  • tipo de HPV (alto risco x baixo risco)

  • tempo de persistência da infecção

  • imunidade do paciente (HIV, imunossupressão, tabagismo)

  • presença de lesões de alto grau (HSIL) não tratadas/monitoradas

O processo de transformação até o câncer costuma ser lento, o que dá uma grande oportunidade para diagnosticar e tratar lesões antes de se tornarem malignas, desde que o paciente faça acompanhamento.

Tratamento

Como o HPV anal é tratado?

O tratamento depende do tipo de lesão, dos sintomas e do perfil do paciente.

Lesões de baixo grau (LSIL)

  • Nem sempre precisam de tratamento agressivo.

  • Em muitos casos, o mais indicado é acompanhar com exames periódicos, já que uma parte dessas lesões pode regredir espontaneamente.

  • O objetivo é não causar mais dano do que benefício com tratamentos desnecessários.

Lesões de alto grau (HSIL)

  • Merecem atenção especial, pois têm maior risco de evolução para câncer.

  • Ainda não existe um “tratamento padrão-ouro” para HSIL anal.

  • As opções incluem:

Terapias tópicas (cremes/soluções) – usadas em casos selecionados

  • Ácido tricloroacético (ATA)

  • 5-fluorouracil (5-FU)

  • Imiquimod

  • Podofilina (contraindicada na gestação)

Terapias com energia (ablação das lesões)

  • laser

  • eletrocauterização

  • radiofrequência

  • crioterapia (congelamento)

  • plasma de argônio

Mesmo com tratamento adequado, a taxa de recorrência pode ser alta, por isso o seguimento prolongado é fundamental.

Câncer anal

  • Quando há diagnóstico de câncer, o tratamento costuma envolver oncologia, radioterapia e, em alguns casos, cirurgia, dependendo do estágio da doença.

  • O diagnóstico precoce melhora muito o prognóstico.

Quando procurar um proctologista?

Você deve procurar avaliação se:

  • percebeu verrugas, caroços ou lesões na região anal;

  • tem coceira, dor ou sangramento anal persistente;

  • faz parte de grupo de risco (ex.: HIV, HSH, histórico de lesões por HPV em colo do útero) mesmo sem sintomas;

  • tem diagnóstico conhecido de HPV e deseja entender melhor o seu risco e opções de acompanhamento.

Quanto mais cedo a avaliação é feita, maiores as chances de tratar lesões ainda em fase inicial e evitar complicações.

Dra. Sabryna Werneck
Sobre a autora

Conteúdo elaborado e revisado por Dra. Sabryna Werneck, proctologista.

Atuação em Itaim Bibi, São Paulo – SP, com foco em doenças do ânus e reto, HPV anal, fissuras anais, hemorróidas e outras condições proctológicas.

Dra. Sabryna Werneck

Cirurgia Geral e Coloproctologia
CRM 127.774 • RQE 62.641

Aviso importante

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui uma consulta médica.
Cada caso é único e precisa ser avaliado individualmente por um profissional de saúde habilitado.

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